Recordei-me da comunicação de Jacques Bouveresse "DO WE NEED TRUTH?" na Conferência Gulbenkian "QUE VALORES PARA ESTE TEMPO? (Lisboa, Outubro, 2006), a propósito das mentiras dos políticos em geral, e daquelas de que é acusado o PM em particular, a mais recente das quais a propósito da ratificação do Tratado Europeu.
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Qualquer observador mínimente isento sabe que Sócrates prometeu durante a campanha eleitoral que lhe deu maioria absoluta, referendar o Tratado e que, em consequência de compromissos assumidos durante as negociações que conduziram à sua assinatura em Lisboa, todos os subscritores se comprometeram a submeter a ratificação do Tratado por via parlamentar, salvo a Irlanda por imperativos constitucionais. Mesmo a Dinamarca, que sempre submeteu a referendo todos os Tratados europeus, se obrigou à ratificação parlamentar.
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Sócrates, perante dois compromissos antagónicos, decidiu-se a justificar o segundo alegando que o Tratado assinado não é aquele que ele prometera referendar. Mentiu?
Admitamos que mentiu.
Se falasse verdade, o que diria? Que assumira um compromisso que é a bóia de salvação do Tratado?
Caía-lhe a Oposição em cima por ter negociado à revelia do mandato popular e se ter submetido ao dictat das grandes potências.
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A verdade, já se sabe, tem custos. Terá benefícios?
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Transcrevo de "DO WE NEED TRUTH"Jacques Bouveresse algumas passagens de um documento que deve ser lido na íntegra e está disponível no site da Gulbenkian:
"Peter Hacker, in Appearance and Realty, says of truth that it generally has the dignity, but not the charm. We are much more seduced by the illusions of philosophy than by the humble truths is able to discover and communicate. That is, it seems, true not only in case of philosophy, but quite generally. It could be said also of truth tha it usually has the respect and the praises, but not the favour and the honours. It is not by truth that we are the most spontaneously attracted and captivated, and it is not truth that is most beloved and bilieved. With falsity, the exact opposite seems to be the case. It has in principle the disgrace, but that does apparently not prevent it from having, neverthless, most of time the success and power".
(...)
The complicated and painful problem one has to face here is that for being perceived and acknowledge as true it is by no means necessary to be such, and the fact of being true may even ,on that point, constitute a serious drwback: the best way to be accepted as true is not necessarily the one consisting in being, in effect true. It is a thing that, for Nietzche, tends to become more striking in times like the one we are now living in, which is the time of masses and theater. Musil quotes a passage of Der Fall Wagner , where it is said that:(...) In cultures of decline, (...) in all situations in which the decision falls into the hands of the masse, authenticity becomes superfluous, disadvantageous, retrograde. Only the actor can still raise the great enthousiasm. In consequence, the heyday is coming for the actor."
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Elucidativo, não?
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